Entrevista: As maiores oportunidades do comércio eletrônico no mercado brasileiro
O Brasil será responsável por quase metade dos US $53,2 bilhões em vendas de comércio eletrônico no varejo na América Latina este ano, de acordo com a mais recente previsão da eMarketer. Ele continuará sendo o maior mercado de comércio eletrônico da região no futuro previsível, dando aos varejistas muitas oportunidades de jogar no espaço—mas o sucesso do comércio eletrônico no Brasil também vem com uma série de desafios.
Matteo Ceurvels conversou com Thoran Rodrigues, CEO de BigData Corp, sobre o que os varejistas devem considerar ao desenvolver uma estratégia de comércio eletrônico pelo Brasil e as maiores oportunidades pelos players de comércio eletrônico nos próximos anos.
Esta entrevista foi realizada como parte do relatório de eMarketer, “Latin America Ecommerce 2018: Digital Buyer Trends for Argentina, Brazil and Mexico".
Do ponto de vista do consumidor, os fatores políticos e econômicos no Brasil afetaram o crescimento do comércio eletrônico?
Rodrigues: Sim, com certeza. Um dos principais fatores que motiva as pessoas a realizar as compras pela internet (ao invés de em lojas físicas) é o preço, e a diferença de preço entre produtos no e-commerce e nas lojas físicas está relacionada, em grande parte, com fatores econômicos.
Também existem impactos negativos: a situação da segurança no estado do Rio de Janeiro, por exemplo, tem dificultado o processo de entrega de produtos por parte dos comércios eletrônicos, aumentando os preços de frete e prazos de entrega. Com isso, as pessoas do estado têm consumido menos pela internet.
Quais são as principais barreiras ao comércio eletrônico que você viu no mercado de comércio eletrônico brasileiro?
Rodrigues: A logística é, sem dúvida, uma grande barreira no Brasil. Problemas de entrega ainda impactam bastante o mercado, e alteram significativamente os resultados das lojas. Um outro fator importante é a concentração do mercado, em dois sentidos.
Primeiro, temos uma concentração geográfica das empresas em São Paulo. Quanto mais concentradas em uma única cidade ou estado estão as empresas, mais difícil é para o mercado se ampliar com empresas em outras regiões, o que inibe a criatividade e a inovação.
Outro tipo de concentração é a concentração dos visitantes em poucos sites ou plataformas, o que aumenta os custos de vendas para os lojistas, que têm de gastar mais dinheiro com mídia para atrair consumidores para as suas lojas virtuais.
Quais são, na sua opinião, alguns dos principais impulsionadores de crescimento do comércio eletrônico no Brasil?
Rodrigues: A adoção generalizada de telefones com acesso à internet (independentemente de serem exatamente "smartphones" ou não) é o principal impulsionador do crescimento. Para grande parte da população, o telefone é a porta de entrada para a internet, muitas vezes o único dispositivo que as famílias têm para acessar a rede.
É um dispositivo muito mais barato e democrático do que os computadores pessoais. A explosão no número de telefones com acesso à internet trouxe uma explosão no número de pessoas conectadas à internet e realizando compras online.
Quão importante é o celular e um público centrado nos dispositivos móveis ao desenvolver uma estratégia de mercado pelo país?
Rodrigues: Este é o ponto mais importante de todos em uma estratégia para atingir o mercado nacional como um todo. No Brasil (assim como em outros países da América Latina, e do resto do mundo) a maioria dos acessos aos sites e lojas já acontece por meio de dispositivos móveis, e não por computadores pessoais.
Com as transações de compra, não é diferente. Quem não estiver focado em proporcionar uma experiência boa e diferenciada para esses dispositivos estará se fechando para a maior parte do mercado.
O que mais o entusiasma no futuro do comércio eletrônico no Brasil?
Rodrigues: O dinamismo do mercado. Nos últimos dois anos, por exemplo, observamos enormes transições do mercado: a preparação para lidar com dispositivos móveis, a adoção de certificados SSL para criptografia de dados, o surgimento e a expansão de marketplaces, o começo da consolidação das plataformas de e-commerce.
Apesar de todas essas transformações, o mercado ainda cresce e tem muito espaço para evolução, não só com novas tecnologias e novas tendências, mas também com novas ofertas de produtos e serviços para os clientes.